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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Pobres bebem mais do que os ricos, garante pesquisa

Pessoas com renda baixa consomem mais álcool do que as de classes altas. A relação foi diagnosticada por uma pesquisa recente desenvolvida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com o Levantamento Nacional de Álcool, 71% das pessoas que ganham menos que R$ 1 mil bebem exageradamente, enquanto na classe A o percentual é de 45%. Foi considerado consumo excessivo 5 doses de bebida em um período de 2 horas para homens e 4 no caso de mulheres. 
Uma dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de pinga. A partir deste parâmetro a pesquisa entrevistou 4.607 pessoas com mais de 14 anos de 149 municípios brasileiros. Na classe C o estudo apontou que 60% bebem de forma exagerada, na B são 56%. 

Os resultados levam à relação de que quanto menor a renda maior o consumo de álcool. Em uma análise dos últimos 6 anos a pesquisa concluiu aumento das pessoas que bebem exageradamente na classe mais baixa. A elevação do poder de compra teria motivado o fenômeno e bebidas mais caras passaram a fazer parte do cardápio dos consumidores.
O relato do taxista Roberto*, 56, revela que o excesso está na quantidade de bebida, mas não consegue calcular em litros. Além do fato de não conseguir mensurar a quantidade de horas reservadas à permanência no bar. Por dia são de 2 a 3 latas de cerveja e aos finais de semana se perde no horário quando sai de casa para beber em algum dos estabelecimentos abertos em Cuiabá. No último sábado chegou às 6h e saiu à noite. 
As partidas de sinuca e a conversa com os amigos o confundem em medir o grau de consumo. A única conta que consegue fazer é do custo financeiro da ingestão desenfreada de álcool, que mantém há 30 anos. São cerca de R$ 900 gastos por mês.

Casado, Roberto diz que a mulher não gosta do estilo de vida baseado no trabalho de taxista e no bar. Mas, ela também não reclama. “A bebida nunca me atrapalhou em nada”. O taxista ainda diz nunca ter se envolvido em acidente de trânsito, passado mal ou ido ao médico por causa do excesso de bebida, apesar da grande circunferência abdominal e sedentarismo.
Durante a entrevista, ele esquece de nomes e informações ditas momentos antes e comenta desta perda de memória, que tem sofrido nos últimos tempos. O pai morreu há 4 anos de cirrose em Sorriso (420 km ao norte da Capital) depois de um longo uso de álcool.

Roberto e o pai iniciaram aos 12 anos na ingestão de álcool. Quando era criança, o taxista lembra que o pai oleiro não almoçava e jantava sem pelo menos uma dose de pinga.
O ritual sagrado se tornou hábito e era acompanhado pelo filho, que lembra esperar o pai sair para trabalhar e em seguida bebericar um pouco do copo. A ingestão era incentivada pelo pai.
Quando perguntado se tem medo de receber o diagnóstico de cirrose, minimiza considerando que a morte do pai foi tranquila. O taxista afirma não ser dependente do álcool, enquanto descreve o desejo por um copo de cerveja gelado.
O médico Alberto*, 61, comenta a pesquisa com ressalvas. Ele acha ser possível que pessoas de renda mais baixa substituam o álcool a uma possível falta de lazer. Mas, afirma que o consumo excessivo pode estar em todas as classes. No grau de dependência alcoólica, quando a pessoa não consegue dissociar a bebida das atividades diárias, a adicção é democrática, diz.

Excesso na ingestão está relacionado à falta de orientação
Os excessos na ingestão do álcool estão relacionados à falta de orientação sobre o uso. Na avaliação da doutora em saúde mental e professora de pós-graduação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Delma Perpétua de Souza a educação sobre seus efeitos deveriam ser difundidos desde a infância. Os problemas causados em associação de álcool e direção de veículos, por exemplo, poderia ser evitada mais facilmente caso houvesse regramento.
Ao invés de leis, o pleno arbítrio em ter consciência de que a ingestão abusiva poderia levar a outros vícios ou casos extremos de mudança de comportamento. Para Delma, é necessária a conscientização para mudar comportamentos.
“A maior preocupação é o álcool, não por ter livre acesso, mas por falta de orientação de como usá-lo de forma moderada”. 
O fato de ser uma substância lícita tem blindado o álcool do debate, avalia. É possível encontrar bares próximo de escolas e ambientes de trabalho. Em festas de família elas estão presentes. Com esta difusão cultural sobre a ingestão de álcool relacionado ao lazer da população, a bebida ganha cada vez mais espaço.

Consumo inicia em idade precoce
Uso do álcool inicia em idade precoce. É dentro de casa que as crianças e adolescentes costumam ter o primeiro contato com a ingestão de bebida alcoólica, chegando a ser compartilhada com os pais. Entre especialistas a oferta espontânea de bebidas é um fator a ser revisto, pois parte da violência e acidentes de trânsito são motivados pelos efeitos do álcool no organismo.
A partir dos 12 anos adolescentes podem experimentar as primeiras doses de cerveja e destilados. Se a bebida não é oferecida pelos pais, o acesso pode ser facilitado por amigos de escola em festas. O comportamento é culturalmente aceito, diz a psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Capsi) Veline Filomena Simione Silva.
Dentro do serviço público ela acompanha no histórico dos jovens que chegam com adicção a entorpecentes ou álcool que os primeiros contatos com as drogas costumam ser pela bebida. “Também não é incomum ouvir do uso abusivo de pessoas próximas”, diz ela em relação aos familiares dos pacientes.
Apesar de não levar a efeitos imediatos no organismo e na aparência com o entorpecente, o álcool pode ser uma droga tão prejudicial quanto as demais. “O que assusta mais rápido os pais é o uso da droga pelos filhos. O álcool é diferente, ao longo do tempo vai apresentar os efeitos. O álcool é uma substância silenciosa”.
A psicóloga explica que nem todos que fazem o uso abusivo da substância se tornam dependentes, apesar deste tipo de adicção ser comum. Porém, ela pontua que no mundo os efeitos do álcool nas pessoas provocam alterações no comportamento que comprometem a convivência em sociedade, como a perda dos laços familiares, os crimes, acidente de trânsito e levam ao envolvimento com entorpecentes.
Cerca de 20 novos pacientes chegam por mês ao Capsi. São jovens de até 24 anos que apresentam dependência química. A responsável técnica Adriana da Costa diz que após o diagnóstico é comum levantar em histórico individual o envolvimento anterior dos pacientes com o álcool.
A mãe de Adão*, 16, acompanha o filho na consulta ao médico. O tratamento foi buscado após as constantes brigas em casa por causa do uso exagerado de droga. Ela relata que o pai do adolescente sempre bebeu exageradamente e ela sugere que a realidade pode ter levado Adão ao vício. Há 2 anos, o menino usa droga e no momento não estuda mais.
No Capsi, a mãe diz que encontrou um pouco de amparo, pois o filho era muito desobediente. O tratamento é ambulatorial e baseado em consultas, atendimentos e atividades realizadas em grupos.

Redução de danos 
Baseado em políticas, a previsão de redução de danos, pode colaborar na discussão da diminuição do consumo. Conforme os planos nacionais de enfrentamento à diminuição de doses e quantidades de droga é um início para a prevenção destes efeitos. O Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack prevê esta proposta, de inicialmente diminuir o uso pelos dependentes e aos poucos levar à recuperação. Fonte G1

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