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domingo, 17 de fevereiro de 2013

YOANI E A SUJEIRA


REINALDO AZEVEDO
A embaixada de Cuba no Brasil montou uma operação para espionar a blogueira Yoani Sánchez em sua viagem ao Brasil. Pior: montou um dossiê para desqualifica-la e fez uma reunião com petistas, cutistas e pecedobistas para definir como distribuí-lo na rede, mas de forma apócrifa. Ainda era pouco: um assessor direto do ministro Gilberto Carvalho (secretário-geral da Presidência), Augusto Poppi Martins, participou do encontro. Mais detalhes desta história sórdida aqui. Os partidos de oposição exigem que o governo dê explicações. A pasta comandada por Carvalho emitiu ontem uma nota oficial sobre o caso. Afirma que “não tratou, nem autorizou nenhum servidor a tratar, da visita da cubana Yoani Sánchez ao Brasil”. Diz ainda que “a suposta participação do servidor Ricardo Augusto Poppi Martins será devidamente apurada quando de seu retorno ao Brasil”. Carvalho está tentando tergiversar. É ouro diversionismo. A coisa é bem mais grave do que parece. E vou dizer por quê. Antes, leiam a íntegra da nota:
Em relação à reportagem “O Dossiê da Vergonha”, da revista Veja desta semana, a Secretaria-Geral da Presidência da República esclarece que recebeu convite da Embaixada de Cuba para participar do II Taller Internacional “las redes sociales y los medios alternativos, nuevos escenarios de la comunicación política en el ámbito digital”, em Havana, de 11 a 13/02/2013, e que designou para participar do evento o servidor Ricardo Augusto Poppi Martins, coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação. No dia 6 de fevereiro, o servidor esteve na Embaixada de Cuba no Brasil para obter seu visto de entrada no país.
A Secretaria-Geral ressalta que não tratou, nem autorizou nenhum servidor a tratar, da visita da cubana Yoani Sánches ao Brasil. A Secretaria-Geral não foi informada de reunião na embaixada cubana nos termos relatados pela revista. A suposta participação do servidor Ricardo Augusto Poppi Martins será devidamente apurada quando de seu retorno ao Brasil.
Assessoria de Comunicação
Secretaria-Geral da Presidência da República
Brasília, 16/02/2013




RetomoEm primeiro lugar, “suposta participação” uma ova! Foi uma efetiva participação. Poppi estava lá. O objetivo da conspirata era divulgar o dossiê anti-Yoani na Internet, e o rapaz é justamente o coordenador de “Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação”. Aliás, leitor, se você quiser “participar” e dizer ao próprio Poppi o que pensa do assunto, o telefone dele no ministério é (61) 3411 5897, e seu e-mail, ricardo.martins@presidencia.gov.br. Só publico aqui porque os dados estão na página oficial da secretaria-geral, e o negócio de Carvalho é ouvir a sociedade… Adiante! A sujeira planejada pelo embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, é grave. E, obviamente, é ilegal.
Na conversa com os bate-paus convocados para desqualificar Yoani, Rodríguez informou que agentes cubanos acompanharão cada passo da blogueira no Brasil, 24 horas por dia.  Assim, caros leitores, ficamos sabendo que agentes do castrismo circulam livremente em nosso país, espionando quem lhes der na telha. Perguntas óbvias:
a) entraram no Brasil como;
b) vieram especialmente para essa missão?;
c) a espionagem será feita por pessoas que já estão na embaixada de Cuba, o que significa que não existe ali um corpo diplomático, mas uma seção da polícia política?;
d) o governo brasileiro tem conhecimento desse fato?

É claro que planejar a divulgação de um dossiê apócrifo é prática asquerosa, além de ilegal. Mas é coisa ainda menos séria do que a confissão de que agentes da polícia política cubana praticam espionagem em solo brasileiro. A nota de Carvalho, como vocês puderam verificar, é omissa a respeito. Poppi, o tal que participou daquela sujeira, foi a Cuba para um seminário destinado a debater justamente a “ciberguerra”…
Mais um homem do Carvalho
Os assessores do ministro Gilberto Carvalho não são mesmo homens convencionais. Lembram-se do Pinheirinho? É aquela área que teve de ser desocupada por ordem da Justiça. O governo petista poderia, se quisesse, ter desapropriado o terreno. Não o fez. Deixou que a questão caminhasse para a impasse. A Polícia Militar de São Paulo teve de cumprir a ordem judicial, enfrentando as críticas de… Carvalho. Ao contrário do que propagandearam os petistas, a determinação da Justiça foi cumprida sem violência.

“Por que isso agora, Reinaldo?” Já explico. O mesmo governo federal que não moveu uma palha para evitar o conflito despachou para o Pinheirinho, na véspera da desocupação, um tal Paulo Maldos, que é chefe de gabinete de… Carvalho!!! Encerrada a operação, ele saiu por aí afirmando ter sido alvo de uma bala de borracha. Por alguma estranha razão, o diligente servidor federal decidiu não se submeter a um exame de corpo de delito. Para lembrar detalhes da história, clique aqui.
O que fazia Maldos no Pinheirinho? “Ah, estava lá para proteger a população”, poderiam responder o militante e o ingênuo. Mas proteger do quê? “Ora, da reintegração de posse!” Havia, pois, a decisão da reintegração, de cumprimento obrigatório. Carvalho e Maldos sabiam, então, que ela iria acontecer, como sabiam os tais “líderes” do Pinheirinho. Mas todos eles decidiram engabelar os moradores, mantendo-os na ignorância. Parece que o objetivo era mesmo usar o lombo dos pobres em benefício de uma causa política. Pergunto: o que distingue, nesse caso, o trabalho de Maldos do de um agitador qualquer? Em que ele se diferencia de um agente infiltrado, disposto a investir no quanto pior, melhor? Carvalho, naqueles dias, faltou com a verdade de modo absoluto ao afirmar que estavam em curso “negociações”. Não estavam, como deixou claro a Justiça. Os moradores do Pinheirinho, em suma, estavam à mercê de oportunistas, que se prepararam para o banho de sangue que não houve. E a operação “de resistência”, àquela altura, estava sendo coordenada, como se viu, pelo gabinete de Carvalho.
Duas fotos ilustram o modo como trabalham os homens de Carvalho. Vejam.


Quem é? Maldus, que exibe uma bala de borracha — não é a que supostamente o atingiu. Trata-se de um artefato qualquer, só para servir de exemplo. Pois bem: digamos que a coisa tivesse mesmo acontecido, como ele tentou fazer crer. O razoável seria que estivesse bravo, afetando, ainda que fingisse, indignação. Mas quê… Na primeira, foto, ele olha para a estrovenga de modo quase concupiscente; na segunda, gargalha. Estava, em suma, fazendo política, cumprindo uma missão.
Poppi só foi àquela reunião da vergonha porque existe um método de trabalho na Secretaria-Geral da Presidência. E quem responde por ele é Gilberto Carvalho. Deveria deixar a pasta pela porta dos fundos, junto com o seu subordinado.
Por Reinaldo Azevedo

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