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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Época: ACM Neto ressuscita o DEM e renova carlismo

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Bahia 247
Publicação no site da revista Época faz um verdadeiro raio-x da situação de abandono na qual se encontra Salvador e dá como grande esperança para a resolução dos problemas o recém-empossado prefeito ACM Neto, do Democratas (DEM).
Ao tempo em que destaca o cenário degradado da primeira capital do Brasil, a matéria aponta a expectativa da população e do DEM sobre o jovem prefeito de 34 anos. Para Época, ACM Neto leva para o DEM, "quase extinto", a esperança de ressurreição e de retomada do protagonismo na política brasileira.
Os repórteres Ângela Pinho e Vinícius Gorczeski dizem ainda que a vitória de ACM Neto traz à tona "uma renovada versão do carlismo, força política que parecia derrotada". Abaixo a íntegra da matéria.
Com um novo prefeito, Salvador espera por mudanças
É Carnaval em Salvador. Até as Cinzas da quarta-feira, blocos e trios elétricos reúnem uma multidão estimada em 2 milhões de pessoas em cerca de 25 quilômetros da cidade. A festa dura sete dias, período em que a capital baiana é exaltada em samba, axé e o que mais vier. Longe dos blocos, a cidade muda de tom. Vive a poesia do desalento, mais especificamente o espírito do poema "Triste Bahia", do barroco Gregório de Matos (1636-1696). Poucas vezes na cidade foram tão proferidas palavras como "abandono", "decadência" e "degradação". Poucas vezes se proclamou tanto a necessidade de "resgatar o orgulho" do soteropolitano.

Salvador tem um novo prefeito. ACM Neto, do Democratas, empossado há pouco mais de um mês, não escapa do negativismo. "A cidade chegou ao fundo do poço", diz. Salvador enfrenta toda sorte de problemas: criminalidade crescente, trânsito engarrafado, paisagem degradada e inúmeros desafios sociais. O caos ajudou a levar à prefeitura uma renovada versão do carlismo, força política que parecia derrotada. O DEM, que andava ameaçado de extinção, recebeu uma nova chance pelas mãos de ACM Neto. Como seu nome diz, ele traz o sangue de Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), uma espécie de chefe vitalício da Bahia desde sua nomeação como prefeito de Salvador, em 1967, durante o regime militar. ACM virou senador, sua carreira entrou em decadência e, hoje, as três iniciais de seu nome inspiram o jovem prefeito, de 34 anos.
A Salvador de ACM Neto é uma cidade diferente daquela do avô – e bastante descontente. Para 44% dos moradores, a qualidade de vida piorou em 2012, segundo uma pesquisa encomendada pela entidade Nossa Salvador. "Salvador está assolada pela feiura. Urbanística, arquitetônica e social", escreveu Caetano Veloso, ao explicar seu apoio a ACM Neto, em artigo no ano passado no jornal O Globo. A sujeira acumulou-se pelas ruas. Construções históricas caem aos pedaços. O crack se disseminou. A orla marítima foi abandonada desde que, há três anos, barracas foram demolidas por uma decisão judicial. Frequentadores têm de levar comida e bebida para a praia ou apelar a ambulantes clandestinos. Projetos de revitalização ficaram no papel. O trânsito é considerado "péssimo" por 90% dos moradores, e o metrô – com obras paradas há mais de dez anos – não ajuda. Seus 6 quilômetros de linhas ainda não estão em operação.
A criminalidade também cresceu. Segundo o Datasus, banco de dados do Ministério da Saúde, Salvador é a cidade brasileira com o maior número de homicídios do país. Mais que São Paulo, cuja população é mais do quádruplo. Segundo o estudo anual Mapa da violência, de 2000 a 2010 a capital baiana passou da 25a para a sétima posição na lista de capitais mais violentas do país. Com a greve da polícia, em 2012, a situação chegou a abalar o turismo. "Nos últimos oito anos, tivemos uma prefeitura omissa. A cidade foi abandonada", diz Carlos Alberto da Costa Gomes, pesquisador do Observatório de Segurança Pública da Bahia. Para ele, a violência é resultado de erros da prefeitura e do governo estadual, desde 2007 nas mãos do petista Jaques Wagner.
O poder municipal é negligente diante dos problemas sociais, diz Gomes, e o Estado peca pelo baixo efetivo e a desorganização das polícias.
O agora ex-prefeito João Henrique deixou o cargo com um índice de rejeição de 68%. Em seus dois mandatos, de 2004 a 2012, passou pelo PDT, pelo PMDB e acabou no PP. Chegou a contar com o apoio do PT. Na eleição de 2008, foi apoiado por ACM Neto no segundo turno e, em 2012, retribuiu a gentileza. Já não era benquisto. "Recebemos a cidade numa situação de caos administrativo e financeiro", afirma ACM Neto. Segundo ele, "os serviços públicos estão em péssimas condições". Logo depois de tomar posse, congelou 25% do orçamento reservado para investimentos municipais, suspendeu os pagamentos da gestão anterior e cortou 20% dos cargos de confiança. Para depois do Carnaval, promete anunciar medidas para aumentar a arrecadação de impostos. Segundo ACM Neto, há apenas 650 mil pessoas cadastradas no IPTU, de uma estimativa de 1 milhão de contribuintes que deveriam pagar o imposto. "O remédio neste começo será muito amargo, mas é o que vai salvar o paciente."
ACM Neto assumiu a prefeitura mais novo que o avô, prefeito aos 39 anos. Ele lida de forma dúbia com a herança familiar. Colocou um herdeiro político de ACM, o ex-governador Paulo Souto, para chefiar sua equipe de transição no fim do ano passado. Nomeou, porém, um secretariado repleto de novos nomes. Sabe que muitos sempre o compararão com o avô, especialmente os adversários. "É um projeto que representa uma oligarquia familiar com interesses empresarias poderosíssimos", diz Jonas Neres, presidente do PT da Bahia. ACM Neto repete um mantra já tradicional: promete copiar o avô apenas no que considera ter sido bom. Se conseguir ser o salvador com que a cidade sonha, entrará para a história. De sua família, de seu partido e da Bahia.

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