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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O VALOR DE UMA CASA BARROCA


Por Humberto Pinho da Silva
Um belo dia bateu à porta o carteiro. Era portador de carta registada. A Ilda, a empregada, que era tratada como se da família fosse, correu a recebe-la.

Tratava-se de aviso da Câmara Municipal, intimando meu pai a destruir prédio barroco, que ameaçava desabar, sob a ameaça do Município fazê-lo, imputando o custo ao proprietário.

Afligiu-se grandemente: realizar a demolição era dispendioso e não tinha possibilidade, a não ser que empenhasse a casa onde vivia. Deixar a Câmara fazer, seria o mesmo.

Não encontrou outro remédio se não consultar advogado, suplicando - quase de mãos postas, - que encontrasse solução para o intrincado problema.

Aconselhou o jurista que escrevesse carta à edilidade, narrando a situação, recordando que se tratava de bela casa barroca, património que devia ser preservado. Acrescentando que estava disposto a vendê-la a preço acessível.

Decorridas semanas, recebeu intimação: davam-lhe apenas três meses para arrasar o prédio. Seguiam as habituais ameaças, caso não cumprisse a ordem

Tornou a escrever, requerendo tempo para vender a casa. A resposta foi sóbria e ríspida: só tinha três meses: nada mais!

Por essa época andava enfermo, vítima de doença que havia de o levar à morte. O resultado dessa troca de correspondência, foi agravar-lhe o mal, a ponto do médico recear morte repentina.

Certo é, que posto à venda, a preço de saldo, apareceu advogado, que regateando a quantia, adquiriu o prédio por tuta-e meia.

Agravada a doença, meu pai faleceu. Feito partilhas, decorreram anos que não transitei pela parte histórica da cidade

Certa vez, por curiosidade, não tendo itinerário, passei pela velha casa barroca, e, para meu espanto, encontrei-a restaurada, brilhando como nova.

Avizinhei-me e verifiquei que havia placa de bronze, indicando: “Propriedade Municipal”

Entrei numa mereceria, meio tasco, e interroguei mulher que servia de mangas arregaçadas, vinho a copo.

Fiquei a saber que pouco depois da morte de meu pai, o prédio foi adquirido pela Câmara Municipal, por ser casa de valor histórico.

Lição da história: leiras ao luar e casas barrocas, valem consoante o proprietário.

Na mão de meu pai, nada valia e deveria ser demolida em três meses, sendo um belo exemplar da arquitetura barroca; na posse do jurista, o Município, para não a destruir, pagou, por certo, bom preço.

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