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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nas câmaras municipais, poder passa de pai para filho


As câmaras municipais são a porta mais fácil para a entrada dos filhos de políticos tradicionais, como forma de perpetuar o poder da família. É uma espécie de teste aplicado pelo político para saber se seu descendente direto poderá dar continuidade ao legado e, ao mesmo tempo, manter o poder da oligarquia. Das 26 Câmaras de capitais pesquisadas pelo GLOBO, somente Palmas não tinha nenhum parente de político nesta legislatura que está terminando. Recife é a que mantém o maior número de vereadores com laços sanguíneos. Dos atuais 39 vereadores, 12 são de famílias de políticos. Ou seja, quase um terço. No Rio, dos 51 vereadores, 13 são parentes (um quarto do total), mesma proporção verificada em Maceió, onde, dos 21 vereadores, seis são ligados a políticos locais.
Dos 13 parlamentares municipais do Rio que são representantes de famílias de políticos, cinco são filhos de gente que tinha ou ainda tem poder. Carlos Bolsonaro (PP), por exemplo, é filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), conhecido por seu repúdio a homossexuais e pela defesa da atuação dura das Forças Armadas. Flávio, o outro filho de Bolsonaro, é deputado estadual. A mãe dos dois, Rogéria, também já foi vereadora.
Prática era mais comum no nordeste
Carminha Jerominho (PTdoB) tem parentes famosos, cuja fama vem do crime. Ela é filha do ex-vereador Jerominho Guimarães e sobrinha de Natalino Guimarães, ex-deputado estadual. Os dois são acusados de integrar a milícia Liga da Justiça e estão presos. A própria Carminha já foi detida também.
Cristiane Brasil (PTB) está em seu segundo mandato como vereadora e tentou ocupar o lugar que foi do pai, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, depois que ele teve o mandato de deputado federal cassado, em 2005. Ela se candidatou a uma vaga na Câmara dos Deputados, em 2006, mas não foi eleita.

A política pode ser uma vocação e pode até ser abraçada pelas novas gerações bem intencionadas, avaliam os especialistas. Mas, na política brasileira, o que se vê é uma tentativa clara de famílias inteiras se perpetuarem no poder. Prática que era mais comum até duas ou três décadas atrás, nos chamados grotões e no Nordeste, e que se torna cada vez mais presente dos grandes centros das regiões Sul e Sudeste.
— O objetivo é preparar uma futura geração de políticos na família, é criar uma linha sucessória. Quando o político acaba o mandato de prefeito ou de deputado, o filho já está em condições de seguir seus passos políticos. Em cidades do interior, as oligarquias têm muito poder. Não chega a ser poder absoluto, mas é poder considerável — avalia o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB).
A política pernambucana é pródiga em produzir várias gerações de políticos na mesma família. Entre os 12 atuais vereadores que têm sobrenomes de políticos conhecidos no estado estão um sobrinho e uma neta do ex-governador Miguel Arraes — João Arraes e Marília Arraes — que são parentes também do atual governador Eduardo Campos, o neto mais famoso do patriarca da família. Também tem assento na Câmara de Recife Priscila Krause (DEM), filha do do ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause.
Na Bahia, herdeiros de ACM
Na Bahia, onde a família de Antonio Carlos Magalhães já produziu herdeiros políticos famosos, o vereador Paulo Magalhães Júnior (PSC), sobrinho-neto de ACM e filho do deputado federal Paulo Magalhães, ocupa lugar de destaque na Câmara de Salvador. E a prefeitura está sendo disputada, com chances de vitória, pelo deputado federal ACM Neto.
No Sul, a Câmara de Curitiba também abriga parentes de políticos de antes e da atualidades. A família do ex-governador do Paraná Ney Braga conta com dois representantes na Casa: um sobrinho, Felipe Braga Cortes (PSDB), e uma prima, Julieta Reis (DEM). Também é vereadora Renata Bueno (PPS), filha do deputado federal Rubens Bueno (PPS).
Em Rio Branco, no Acre, Rodrigo Pinto (PMDB) tenta dar visibilidade à família depois da morte do pai, o ex-governador Edmundo Pinto, assassinado em 1992. Na ocasião, Rodrigo tinha 12 anos. Em abril deste ano, a violência voltou à família, mas, desta vez, o protagonista foi o próprio vereador. Numa crise de ciúmes, ele destruiu os vidros do carro do filho do presidente da Câmara de Rio Branco. Rodrigo suspeitava que sua mulher estivesse no carro com outro, mas o dono do carro estava com a mulher numa maternidade.
O exemplo do pai foi a justificativa dada pelo candidato a vereador Galba Novais Neto (PMDB) para entrar na vida política. Galba pai é presidente da Câmara de Maceió, foi candidato a vice na chapa de Fernando Collor ao governo do estado em 2010 e agora tenta chegar à prefeitura. A família mantém uma ONG na qual oferece serviços médicos e corte de cabelo gratuitos.
— Minha família tem quase 40 anos de vida política e meu pai está no quarto mandato. Eu vinha amadurecendo a ideia e ajudar as pessoas é coisa que me motiva muito e que minha família faz com dedicação — disse Galba Neto. De http://oglobo.globo.com/

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