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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Crise na Espanha provoca fuga de brasileiros


A turbulência na economia da Espanha provoca tremores nos pequenos negócios de imigrantes brasileiros. Exemplo disso é o bar Kabloka, que, com o agravamento da crise da dívida na zona do euro, viu-se obrigado a fechar as portas no ano passado.

Inaugurado em Madri em 2004, o Kabloka foi idealizado pela sergipana Nely Maria Silva de Oliveira. Segundo ela, a debandada de brasileiros que retornaram ao Brasil e a redução no poder de compra da classe média espanhola resultaram na queda de 70% do faturamento do bar.

— Embora o bar estivesse sempre cheio, os clientes pararam de consumir ou consumiam pouco. Quem comprova 10 copos de bebida por noite, por exemplo, passou a comprar dois. As pessoas diminuíram seus gastos simplesmente porque não têm dinheiro — contou Nely, moradora da capital espanhola há 24 anos.

Segundo ela, mesmo com incremento às estratégias de marketing, o negócio não resistiu: 

— Tomamos todas as medidas para seguir com o bar, aumentamos nossa divulgação, mas a crise está fazendo com que as famílias tenham medo de perder até o direito de comer. Acabamos demitindo funcionários, até a suspensão temporária das atividades do bar, em março de 2011.

Mesmo fechado, Nely conta que muitos clientes ainda ligam perguntando se o bar será reaberto:

— Graças ao Kabokla, muita gente conhece o melhor da música brasileira, o teatro, o cinema e a nossa literatura. Não queremos perder esses anos de conquistas e esforço.

A brasileira disse já estar buscando novos locais, com a expectativa de “reinaugurar” o Kabokla em setembro. A proprietária, no entanto, teme a instabilidade do marcado:

— Ainda temos dúvidas já que a tendência da economia é cair. Não vejo recuperação, não há incentivo ao crescimento. Não existe apoio por parte da administração pública aos pequenos e médios empresários e os créditos bancários estão muito difíceis.

— Todas as medidas de cortes do governo são drásticas. Isso é um suicídio econômico — complementou.

Em julho deste ano, o governo do conservador Mariano Rajoy aprovou novo plano de austeridade que inclui, entre outras medidas, cortes de salários, aumento de impostos e diminuição do valor do auxílio-desemprego. Com os novos ajustes, o Executivo espanhol tenta economizar € 65 bilhões até o fim de 2014 para fazer com que o déficit público seja de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). O novo plano não foi bem recebido pela população, que reagiu com protestos por todo o país.

Participante das manifestações contra as medidas de austeridade do governo espanhol, a paulista Rosemary Jupyara é dona do Maloka, outro bar brasileiro em Madri. Apesar de ter sentido os efeitos da crise, ela conseguiu manter seu quadro de funcionários e o negócio de pé.

— Em geral, continua havendo clientela, mas muitos clientes demoram para sair de casa e chegam um pouco mais tarde para consumir menos — afirma Jupyara, para quem “os protestos representam uma esperança verdadeira de mudança”.

Brasileiros que driblaram a crise

Se para alguns a crise espanhola veio como um verdadeiro tsunami, para outros, porém, não passou de um vento leve. A farmacêutica Maria Fernanda de La Cruz, de Rio Claro (SP), revela nunca ter sofrido problemas com a crise. Pelo contrário: “Desde que cheguei na Espanha já tive duas promoções e dois aumentos. Sempre me ligam das concorrentes me oferecendo trabalho”, contou.

A disputa pela mão de obra da brasileira tem justificativa: 

— Minha área é de pesquisa clínica, não existem cursos muito específicos, o que conta é a experiência e eu trabalho nisso desde 2003 — afirmou.

Para os negócios, a matemática também é variável. A lanchonete “Trigo del Oro”, da brasileira Kênia Fabiana de Magalhães, na contramão dos resultados decrescentes do país, tem registrado aumento de vendas, mesmo tendo sido aberta em plena crise, em novembro de 2009, um pouco mais de um ano após a explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

Nesses três anos, a “Trigo del Oro” já forneceu buffet para festa de aniversário do Kaká, jogador do Real Madrid, para os artistas e bastidores do Rock in Rio Madrid 2012 e para os escritórios da TAM na capital espanhola.

— No nosso ramo, que é de alimentação, as pessoas não deixam de comprar pois não é item de luxo e, sim, de primeira necessidade. Os espanhóis, na verdade, diminuíram sim as compras mas, ao contrário deles, os brasileiros, que são acostumados com coxinha, pão de queijo e produtos de primeira linha do Brasil, continuaram o consumo como era antes e até aumentaram — destacou.

— Não estou dizendo que a crise não nos atingiu mas, no nosso caso, o que aconteceu foi uma mudança de clientes e de costumes — avaliou a belo-horizontina, que se mudou para Madri em 2000.

A profunda recessão na Espanha tem provocado debandada de brasileiros para países vizinhos não tão afetados pela crise econômica na zona do euro. Quase um terço de todos os desempregados na zona euro estão na Espanha, cuja taxa de desocupados atingiu 24,6% no segundo trimestre deste ano, seu nível mais alto desde o retorno do país à democracia, em meados dos anos 1970.

Após 18 anos em Madri, a brasileira Jane Torres teve que cruzar o continente em busca de novas oportunidades. Ela foi demitida de uma multinacional onde trabalhava como gestora de cobranças e acabou se mudando para a Suíça. O lugar não é o preferido de Jane, mas, segundo ela, a mudança lhe garante ao menos o sustento.

— Estou passando uma temporada na casa de uma amiga. Está complicado porque não falo alemão, mas ajudo minha amiga com as crianças e ela me paga por isso. Não é isso que eu quero, adoro a Espanha e o meu trabalho — disse a paulista.

Os jovens são os mais atingidos pela crise. Segundo dados da agência de estatísticas da União Europeia, Eurostat, metade da população da Espanha com menos de 26 anos está desempregada. Foi também pela falta de perspectivas que Rafael Del Castillo, de 29 anos, deixou a capital espanhola no ano passado.

Na época em que desembargou em Madri, em 2007, para cursar um mestrado em Direitos Humanos, Castillo viveu o vigor econômico do país. — Havia muitas obras, o povo era otimista. Quase não tinha protestos — lembrou.

Castilho trabalhava em uma Organização Não Governamental (ONG) de refugiados e como professor de inglês. Com a turbulência no mercado mundial, ele viu a terra que um dia foi sinônimo de prosperidade se transformar em um local de incertezas.

— Agora estão todos insatisfeitos com a política e sem esperança. Não sabem quando e como vão sair da crise — acrescentou o brasileiro de Campinas, que trocou a Espanha pela Holanda.

Os brasileiros, assim como grande parte dos espanhóis, criticam o novo plano de austeridade aprovado pelo governo do conservador Mariano Rajoy. As medidas incluem corte de salários, aumento de impostos e diminuição do valor do auxílio-desemprego, entre outros.

Com os novos ajustes, o Executivo espanhol tenta economizar € 65 bilhões até o fim de 2014 para fazer com que o déficit público seja de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Da Agência O Globo

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