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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Brasil: Água em troca de votos

O Poti
A corrida eleitoral no Nordeste já está fervendo e entre as promessas típicas de campanha incluem um item precioso para as famílias castigadas pela pior seca dos últimos 30 anos: acesso à água. Na região, é comum os políticos se comprometerem com a instalação de cisternas, caixas d'água, tijolos para construção e abastecimento diário de água por carros-pipa. Alguns moradores já cansaram das palavras que nunca resultam em ações. Outros cedem às promessas e, em troca, colaboram com a vitória do candidato nas urnas. A compra de votos é uma prática comum desde o início do período republicano no Brasil. E, para uma população que sofre anualmente com a seca, é difícil diferenciar direitos e deveres de benefícios e presentes.

O agricultor Gilson Alonso Carvalho, 30 anos, da comunidade rural de Data Serra Branca, próximo a Paulistana (PI), conta que já votou em uma vereadora do município piauiense porque ela prometeu os materiais necessários para a construção do telhado de sua casa. Gilson cumpriu sua parte no acordo, mas a política não. "Graças à ajuda dos meus pais, consegui o telhado. Não acredito mais em políticos."

A gravidade da situação não se restringe aos políticos que lutam para chegar ao poder e inclui aqueles que fazem uso da máquina administrativa em benefício próprio. Em Data Serra Branca, moradores relatam que os carros-pipa só abastecem "aquelas casas que o prefeito quer". Por conta da falta de abastecimento, o grupo da comunidade teve que construir com recursos próprios um poço que custou R$ 5 mil para não morrer de sede.

Em Massapê, no município de Picos, também no Piauí, os relatos são parecidos. Segundo Francisca Maria de Carvalho Costa, 40 anos, em ano eleitoral, os políticos visitam sua residência, mas ela não os deixa entrar. "Eles sabem que a gente não vende nosso voto", justifica. Coincidência ou não, a casa da família é a única em uma comunidade de três outras casas que ainda não foi contemplada com energia elétrica.

Próximo dali, na comunidade da Chapada do Mucambo, 300 famílias convivem comas dificuldades diárias da falta de água. Do total de famílias, só 70 são abastecidas pelo carro-pipa contratado pela prefeitura.
 
O veículo é propriedade de um cabo eleitoral do prefeito, e é alugado a R$ 6 mil pela prefeitura. Segundo relatos de agentes comunitários, os beneficiados com a água são eleitores do prefeito. Os moradores contam que os políticos intimidam as pessoas e abusam da ingenuidade da população. Um rapaz chegou a achar que tinha que votar no prefeito, pois havia uma câmera dentro da urna que fotografaria o voto dele. As prefeituras de Paulistana e de Picos não retornaram o contato da reportagem para comentar o assunto. 

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