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segunda-feira, 18 de junho de 2012

RIO+20: Economista português diz que resultado fraco fará mundo perder tempo

CLAUDIA ANTUNES - BOL - DO RIO
"Esta Rio+20 vai nos levar a perder uma geração. Temos que começar a pensar na Rio+40", sentenciou o sociólogo e economista português Boaventura de Souza Santos, que na década passada foi um dos mais ativos participantes do Fórum Social Mundial.
A frase de Boaventura, no encerramento do painel de debate sobre pobreza e desenvolvimento sustentável, na noite de sábado (16), reflete a decepção de muitos militantes de causas sociais com os resultados previstos da Rio+20.

A cada rodada de negociações, o documento final da conferência fica mais aguado, única forma de obter consenso para posições díspares que opõem, em sua maioria, países em desenvolvimento aos países ricos.

O maior nó diz respeito ao financiamento da transição para um modelo de desenvolvimento que respeite o ambiente. EUA e União Europeia, em crise econômica, não querem se comprometer com recursos novos e nem sequer reiterar os compromissos de ajuda ao desenvolvimento que fizeram há 20 anos, durante a Eco-92.

Emergentes como China, Índia e Brasil, do seu lado, argumentam que, embora o seu PIB total esteja crescendo, em termos de renda per capita eles continuam muito atrás dos países desenvolvidos.

AUTOCRÍTICA AMBIENTALISTA

O desabafo de Boaventura foi acompanhado pelos de outros participantes do painel. Manish Bapna, vice-presidente executivo do centro de estudos World Resources Institute, de Washington, fez uma espécie de autocrítica da posição adotada pela maioria das ONGs ambientalistas nos últimos anos.

"A ambição do documento final da Rio+20 é muito menor do que há 20 anos [na Eco-92] e parte da culpa cabe aos grupos ambientalistas. Passamos a adotar argumentos científicos e econômicos, dizendo que a sustentabilidade é boa para os lucros, e deixamos de falar de justiça e igualdade, de fazer trabalho de base", disse ele.


Para Boaventura, o documento final estará muito longe de estimular as "grandes mudanças estruturais necessárias" para resolver os problemas causados por uma "das mais predatórias formas de capitalismo", aquela dominada pelas finanças.

Ele afirmou que, no momento em que os governos precisam de mais poder e recursos para controlar os mercados, o arrocho fiscal que está sendo imposto nos países europeus -antes a vanguarda de um sistema social-democrático-vai reduzir a capacidade de intervenção do Estado.

"A economia verde é um cavalo de Tróia para levar à privatização dos bens naturais comuns. A natureza não é mercado. Os problemas que o capitalismo cria não podem ser resolvidos com mais capitalismo", disse o professor português.

O painel sobre pobreza e desenvolvimento sustentável vai encaminhar dez recomendações aos chefes de Estado e de governo que se reunirão no Rio a partir da próxima quarta-feira. No final dO debate de sábado, o público que assistia (cerca de 200 pessoas) pôde escolher quais os favoritos entre os dez.

Ganhou, em primeiro lugar, a sugestão de que seja assegurada a cobertura universal de saúde. O tema chegou a estar no documento final da Rio+20, mas sofreu a oposição dos Estados Unidos, onde a universalização do seguro de saúde -mesmo que o provedor não seja público-é um tabu para a oposição republicana, que tenta impedir a reeleição de Barack Obama.

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