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terça-feira, 24 de abril de 2012

NOVELA: Cinismo de Carminha pode levá-la à vida política

Do UOL, em São Paulo
Luiza Dantas“É em momentos como esse que nós, pessoas de bem, temos que nos unir para nos proteger contra a pouca vergonha mascarada de modernidade que está invadindo nossos lares, tomando conta do nosso país! Eu estou falando deles, dos libertinos, dos amorais, dos degenerados, dos transviados que a cada dia ganham maior espaço na política, na mídia, na sociedade em geral! Nós vamos deixar que eles corroam os nossos valores? Ah, não! De jeito nenhum! Abaixo a imoralidade! Viva a família!”
As palavras acima caberiam muito bem na boca de uma vereadora católica, homofóbica, ex-atriz de TV que já posou nua; de um deputado militar defensor da ditadura, misógino e homofóbico; de um pastor evangélico assombrado pelo direito ao aborto e ao casamento igualitário; de uma ex-primeira dama populista de um país vizinho; ou mesmo de todos esses personagens reais em coro. Mas trata-se de uma cena da novela “Avenida Brasil”, exibida no capítulo de sábado (21), escrita pelo autor João Emanuel Carneiro para uma de suas protagonistas: Carminha, interpretada com assombroso realismo por Adriana Esteves.
Para quem não está assistindo à novela, Carminha é nada menos que a vilã da história. O currículo de maldades da personagem resume-se, aos 25 capítulos da trama, em ter dado um golpe no primeiro marido (que por sua culpa acabou morto), ter abandonado a enteada em um lixão, depois casar-se por interesse com um jogador de futebol, articular para que seu amante também se casasse com sua cunhada e, nesta semana, arquitetar seu próprio sequestro para tirar mais dinheiro do “otário” Tufão (Murilo Benício), o segundo marido.
Para a sociedade, no entanto, Carminha posa de católica fervorosa, defensora da moral e dos bons costumes. Na semana passada, Carminha inaugurou uma creche que leva o nome de seu marido jogador e, capítulos depois, ao ver os sogros se separando, enchia a boca para dizer que o divórcio deveria ser proibido. O discurso de sábado acontece durante uma ação beneficente, realizada em parceria com a Igreja Católica do fictício bairro do Divino, em que a personagem distribuirá comida aos necessitados. O padre, como todos os padres de outras novelas clássicas que retrataram o coronelismo e o populismo no interior do Nordeste, derrete-se pela bondade da falsa devota, especialmente pelas vantagens que suas vistas grossas lhe trazem. 
Como acontece com frequência nas avenidas deste Brasil, essa bondade e esse moralismo todo vêm travestidos de corrupção. Após entregar a creche, Carminha conta ao amante/cunhado que desviou R$ 40 mil do empreendimento. Ela acha pouco. Logo no começo da novela, disse que não queria muito da vida. Queria tudo. Também disse que a melhor maneira de botar a mão em uma grana preta no Brasil era sendo política. Por isso, já sinalizou que pretende iniciar sua carreira como vereadora.
Mas quem irá deter Carminha? Nina (Débora Falabella), a heroína vingadora abandonada no lixão pela ex-madrasta, é outra personagem igualmente fascinante por subverter a lógica da mocinha estúpida e vitimizada pelas ações da vilã. No capítulo desta segunda-feira (23), em uma cena de tirar o fôlego da audiência, as duas protagonistas travam uma batalha de cinismo, na qual Nina leva vantagem por saber que a rival mente. 
Alimentada por desejo de justiça e um ódio capaz de nauseá-la, a chef de cozinha irá sabotar o falso sequestro e ficar com o dinheiro do golpe de Carminha para, entre outras coisas, financiar sua vingança. E é nesse ponto que se desenvolve o argumento principal da história: Até que ponto Nina não se tornará igualmente corrupta em nome de justiça? É possível combater a canalhice no Brasil sem o uso de meios ilícitos? 
Pode ser que a novela termine com algum final moralista para aplacar a revolta da audiência já massacrada pela bandalheira real, que de tão superlativa chega a parecer fictícia. No entanto, se o autor mantiver a crueza de seu relato, é bem possível que essa avenida desemboque na Esplanada dos Ministérios.

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